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Sobre tentar engravidar



Demorei bastante para falar "abertamente" sobre isso. Não sei bem ao certo por que. Um pouco por medo do "mau olhado", talvez por medo do julgamento ou ainda, por medo de expor sentimentos indefinidos e incompletos. Fato é que demorei bastante.


Eu nunca sonhei em ser mãe. Nunca gostei de brincar de boneca bebê. Sempre fui de brincar de Barbie e de imaginar como seria a minha vida adulta: independente, cheia de glamour, interessante e cheia de aventuras. Me ver adulta sempre foi uma defesa para o sofrimento da infância e me ver independente parecia ser a chave que abria um mundo onde a felicidade dependia única e exclusivamente de mim mesma!


Bem, assim como nunca sonhei em ser mãe, também nunca havia sonhado em me casar tão cedo mas a vida me apresentou o amor da minha vida e alma gêmea aos 19 anos... Mesmo assim sempre segurava a questão da maternidade e respondia com um "um dia sim" a quem perguntasse sobre o desejo de ter filhos, muito mais para que não me incomodasse do que por efetivamente sentir esse desejo.


Também nunca fui daquelas pessoas que as crianças gostam e que sabem como se portar ao lado de uma. Nunca gostei indiscriminadamente de pimpolhos nem de cachorros. Gostava de uns, mas definitivamente não de todos, definitivamente não daqueles que insistiam em me perseguir em minhas viagens aéreas mais longas justamente às vésperas de reuniões importantes...


Não me lembro exatamente o dia em que o "relógio" começou a fazer tic tac. Não posso ao certo afirmar que tenha sido biológica a minha decisão, senão, como quase todas em minha vida, pragmática e bem pensada. Parecia estar na hora. Na hora de voltar para casa (eu vivia há alguns anos em São Paulo fazendo ponte aérea com o marido em Curitiba) e liberar, ou como eu gostava de dizer: tirar o goleiro de campo. No fundo do meu coração eu sempre achei (ou sempre soube) que iria demorar para engravidar. Não sei exatamente porque mas essa sensação me acompanhava desde sempre.


Fato é que, em novembro de 2013, meio que por acaso, eu parei de tomar anticoncepcional após quase 14 anos ininterruptos (exceção a pequenas interrupções pontuais). No começo não queríamos que fosse rápido até porque eu acabava de entrar em um novo emprego. Apenas iriamos deixar rolar (tão a minha cara!!! #sqn).


E assim os meses foram passando... com alguns momentos de ansiedade, outros de esquecimento completo de estar "tentando" engravidar... passou o primeiro semestre e um certo incomodo foi batendo no meu coração. Estaria na hora de fazer exames mais específicos? Ou deveria esperar os 12 meses recomendados pelos médicos?


Quem me conhece sabe o quanto eu sou ansiosa e como eu já tinha um receio íntimo de que a coisa fosse demorar a acontecer, optei por deixar essa decisão (investigar já ou esperar) nas mãos do meu médico. Para minha surpresa ele concluiu que não havia mal em ir investigando o marido já que se trata de exame indolor e de "fácil" elaboração (não é exatamente o que ele acha a esse respeito, mas certamente é menos invasivo e arriscado do que a maioria dos exames a que estão sujeitas as mulheres neste processo de investigação).


Bem, as investigações começaram juntamente com a ansiedade e o empoderamento. Comecei a estudar tudo o que seria necessário sobre concepção e acabei descobrindo um admirável mundo novo, a começar pelo fato de que a concepção é de fato beeeeeem mais difícil e rara do que imaginamos quando estamos fazendo sexo na juventude morrendo de medo de que "mesmo tirando apenas 1 dia após o término da menstruação" poderíamos engravidar!


É incrível como todooooo mundo (sério, absolutamente todo mundo!) tem uma história de alguém que engravidou quando relaxou! Que tentou por anos e quando esqueceu do assunto pimba! Que adotou e depois engravidou, que nem deu e engravidou (é, já ouvi essa!)


Então você começa a pensar em como fazer para esquecer. Para desencanar, pois aparentemente parece ser este o segredo da fertilidade! Será sua a culpa do fracasso nas tentativas? Da sua ansiedade que te acompanha desde sempre? E agora? Será o benedito que a sua ansiedade é pior do que usar crack, ter 15 anos, não querer filhos e ter feito laqueadura??? (sim porque todas essas mulheres também engravidam!) E mais: será que você é a ÚNICA surtada nesse mundo tentando ter um filho?


Aí você entra na internet e descobre que existem zilhões de grupos de tentantes com milhares de mulheres surtando ali que em algum momento vão ficando grávidas não porque relaxaram, mas porque investigaram e resolveram problemas fisiológicos que atrapalhavam a natureza. Assim como também existem outras tantas que estão ali desde o primeiro mês de tentativas e engravidam facilmente após 2 ou 3 meses e depois vem com esse papinho de que foi porque "relaxaram". Pera?! Para tudo! Você entrou em um grupo de tentantes com um mês de tentativas e quer me convencer de que estava relaxada? É isso mesmo?


Isso sem falar que esse é tipo O plano mais importante que vou fazer na vida. É como fazer uma dívida milionária (financeira E emocional) sem prazo para terminar, mas você acha que eu tenho que relaxar? Ficar nervoso em entrevista de emprego tudo bem, no primeiro encontro com um cara x também, primeiro dia de trabalho e reunião importante também pode! Mas quando você está tentando gerar um outro ser humano e não consegue aí não!! Aí pelo amor né?! Tem que relaxar... Você tá aí ansiosa com a sua vigésima viagem para Disney, postando todos os dias no Facebook quantos minutos faltam, mas eu não posso ficar ansiosa com a chegada (ou não) da minha menstruação. É isso mesmo?


A primeira conclusão a que cheguei com essa experiência é de que as pessoas repetem ao infinito (tipo no looping mesmo) frases sem sentido que podem até ser parte da experiência DELAS mas que estão baseadas em uma total falta de empatia com o sentimento da outra, além de terem zero embasamento cientifico.


A segunda é a de que infelizmente muitas das que sofreram, que penaram, que choraram quando viram aquelas gotas de sangue um dia tão desejadas e hoje tão malditas, guardam para elas esse segredo contribuindo mais ainda para a sensação que toda tentante tem de ser a única louca psicótica ficando de perna para cima após mais uma tentativa!


Tinha (e tenho) a mesma impressão sobre a maternidade... e quando li esse artigo tive certeza de que estavam me escondendo algo!


Tudo poderia ser mais simples se as pessoas se ajudassem ao invés de criarem tabus sobre temas familiares a todas nós! Nos sentiríamos menos ETs, a própria famigerada ansiedade (que pode não atrapalhar a concepção mas certamente torna o processo mais sofrido) seria mais contornável e, principalmente, as expectativas em relação a nós mesmas seriam mais leves de serem carregadas!


Esse processo todo me fez ter certeza de que ser mãe é um novo sonho, mas de que serei feliz também se não puder ser e, principalmente, de que a culpa não será porque "eu não relaxei". Tudo tem um aprendizado e essa experiência está sendo incrível por um lado para aprender a esperar, para conhecer o meu corpo e a beleza da natureza e, por outro, para confirmar que não tenho controle sobre tudo mas que posso fazer a minha parte.


Mas o principal aprendizado para a vida é mais uma vez a empatia. Não é porque EU vivi a experiência (seja ela qual for) de uma forma que tenho o direito de julgar a vivência alheia! Então, parabéns para você que engravidou tomando pílula E usando DIU com um marido com vasectomia e só se deu conta aos três meses porque "não estava nem pensando nisso", mas por aqui a banda toca de outro jeito! Temos teste de ovulação, temos termômetro e temos teste de gravidez no primeiro dia de atraso! Temos lágrimas no dia da menstruação e esperanças infinitas a cada período fértil. Principalmente, e acima de tudo, temos amor, muito amor para dar, muito desejo de viver essa experiência e muita persistência para alcançar esse desejo!


Obrigada a todas as amigas que fiz nessa trajetória pois criar um vínculo de carinho e compreensão com outras mulheres que nunca vi pessoalmente mas com quem posso compartilhar esse momento sem julgamento me fez perceber que nem tudo está perdido na humanidade!


Por fim, como diria a mãe do Bambi: se não tens nada de bom a dizer, simplesmente não diga nada!


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