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Precisamos falar sobre isso!


A Comissão de Estudos de Violência de Gênero da OAB Paraná (CEVIGE-OAB/PR) e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM Brasil) realizaram nos útilmos dias 15, 16 e 17 o Seminário Regional "Violência de Gênero: desafios para o campo dos direitos humanos". (Confira a programação completa aqui!)


Foram 3 dias de discussões, debates e maravilhosas exposições de mulheres que ocupam seus espaços e impõem sua presença através do trabalho, da palavra e até mesmo do olhar. Mulheres que estão fazendo a diferença para transformar esse mundo repleto de desigualdades, sofrimento e dor para a maioria da população que é oprimida desde sempre em maior ou menor medida, a depender de seus próprios privilégios, nesta estrutura social que sujeita um ser ao poder de outro pelas razões mais desumanas possíveis.

Mesa após mesa o Seminário foi ficando cada vez mais intenso e profundo ao trazer dados tão assustadores e chocantes quanto desafiadores para todas que atuam nessa área.


Ao abordarem o aborto e as violências físicas e psicológicas infligidas a tantas mulheres, não consigo deixar de me chocar em como a nossa vida é diminuída. Como ela vale menos quando ousamos nos furtar ao papel que nos deveria fazer completas: o de mãe! Como a vida de uma mulher é tida como banal apenas por estar descumprindo o papel que a sociedade espera dela. Sim, pois não há maior mentira do que a de que a preocupação anti-aborto é com a vida do embrião. Não, não é! Não quando inúmeros embriões são sistematicamente congelados, manipulados e descartados em processos de reprodução assistida onde, ao contrário dos abortos clandestinos em que mulheres, em sua maioria negras e pobres morrem corriqueiramente, rola muito muito dinheiro. Não quando mulheres grávidas são jogadas para parirem na cadeia (sem necessidade ou previsão legal alguma de serem mantidas em prisão preventiva), na maioria das vezes algemadas a uma maca. Não quando crianças são presas sem terem cometido crime algum a não ser o de nascerem de uma mãe pobre e sem recursos de qualquer tipo, completamente abandonadas por todos aqueles que poderiam e deveriam tê-la amparado. Não, não venham me dizer que a preocupação da sociedade é a vida desta criança pois até a hipocrisia tem limites. Esta criança que será abandonada, escarniada e refém de um sistema falido e desumano com a suas cidadãs não é de longe alguém com quem a sociedade se preocupe.


O Seminário continua com mais uma mesa matadora! Debater racismo e recorte étnico-racial no feminismo me deixa sempre com um sabor amargo na boca ao perceber como podemos ser também algozes - e cruéis - dentro da nossa própria militância. Sim, ao ignorarmos o nosso racismo, preconceitos e principalmente o ponto cego dos nossos privilégios que tantas vezes não nos deixa enxergar com clareza o como nos regozijamos neles. Não nos faz enxergar como falta representatividade, como falta ouvirmos mais negras, lermos mais negras, estudarmos mais negras e sim, darmos voz às negras, descendo do nosso pedestal de “paladinas contra o patriarcado” (com muitas aspas para o paladinas e para o patriarcado!). E é justamente por causa desse gosto amargo que ele é tão essencial e que a mesa das maravilhosas Heliana Hemetério e Dora Lucia Bertulio foi e é tão essencial. Fica como aprendizado (para ser cobrado) termos mais negras em todas as mesas e não apenas focadas no debate racial propriamente dito.




​O segundo dia de Seminário nos trouxe a visão multicultural das colegas latino-americanas que abordaram com muita energia questões tão sensíveis entre a defesa aos direitos humanos e o respeito a uma cultura não ocidental. Não me resta dúvida: não há mais espaço no mundo para tradições que desconsiderem os direitos dos mais vulneráveis!


Assim como não há mais espaço para um mundo onde mulheres ocupem tão poucos espaços na política que foi o tema da primeira mesa da tarde de sexta. Não queremos fazer parte do jogo, queremos mudar as regras do jogo. Mais: "queremos jogar o tabuleiro para cima" diz a jovem cientista política Danuza que substituiu lindamente a Flavia Biroli que infelizmente ficou doente e não pôde vir de última hora!


Fechamos o segundo dia debatendo a violência doméstica que ainda assola esse país com números assombrosos, números estes que, apesar de uma legislação especifica tão bem elaborada como a Lei Maria da Penha continuam nos envergonhando com o sétimo lugar entre os países com o maior índice de violência contra a mulher do mundo. Temos uma média de 10 novos casos de violência diariamente e ainda temos que aturar notícias como esta que tratam crimes de violência contra uma mulher como sinais de amor, ciúmes e paixão.


Pois bem, é por essas e outras que foi lançada por iniciativa da Cevige, com o apoio do Presidente da OAB/PR a campanha pela criação da Segunda Vara especializada em violência doméstica e familiar no âmbito da Casa da Mulher Brasileira de Curitiba. Aliás você também pode (e deve) nos ajudar assinando a Petição Pública aqui! E, claro, divulgando a todos os seus amighuinhos e amiguinhas de Facebook.


​E como eu poderia esquecer das JMCs?!??!! ​Foi lançado também o projeto Jovens Multiplicadoras de Cidadania, sobre o qual vocês ficarão sabendo tudinho aqui ao longo dos próximos meses, mas já posso adiantar que objetivo do projeto é o de capacitar lideranças femininas no exercício pleno de sua cidadania e também como instrumentos de transformação e reverberação de conteúdo em suas comunidades! O primeiro curso será realizado com adolescentes e jovens do Colégio Estadual Costa Viana em São José dos Pinhais e iniciará já na próxima semana e eu terei a honra de facilitar o primeiro encontro sobre autoconhecimento, protagonismo, construção da autoestima e muito mais.


Tivemos ainda, no sábado, um debate sobre as mais esquecidas e invizibilizadas das mulheres: as detentas. Que painel difícil, que números horríveis e que frio na espinha ao me sentir tão impotente, distante e de certa forma co-responsável com essa completa ausência de olhar para essas mulheres que sofrem dupla, tripla, quadruplamente as opressões desse sistema cruel. Me emociono e arrepio inteira ao ouvir os relatos de tantas mulheres que, assim como muitas das refugiadas e migrantes das quais se falou no dia anterior, conhecem nada mais do que tristeza, abandono e violência.


Saio deste Seminário com poucas certezas e muitas inquietações. A luta não é fácil, o caminho é longo e árduo, mas ter tantas mulheres fodérrimas e inspiradoras no nosso país e na América Latina me dá muita esperança, vontade de aprender e capacidade de sonhar!


Sinto não termos mais homens aqui para ouvir, mas ao mesmo tempo, como comentou a Daniela Rosendo, uma das organizadoras lindas do evento “precisamos desses espaços de diálogo e debate aberto entre nós, pois é nesse espaço que nos fortalecemos e nos empoderamos para falar também a eles!”. Você tem toda razão Daniela!


Minha enorme gratidão à CEVIGE, CLADEM e OAB por este evento! Em especial à Dra. Sandra Lia que me aceitou neste grupo tão lindo que tanto faz pela igualdade de gênero.



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