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Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro...

Ano passado, às vésperas do meu aniversário, eu escrevi algumas cartas para mim mesma. Palavras que traduzem reflexões e aprendizados de toda a minha vida e que me diziam para não esquecer, nas horas de completo desânimo, o quanto eu já caminhei. Ontem, depois de muitos anos, eu voltei para a psicoterapia. Percebi que, mesmo com todas as ferramentas que tenho, as décadas de terapia, estou precisando de ajuda externa para lidar com essa tristeza, com a angústia que tem me consumido no último ano.


Aconteceu tanta coisa, dentro e fora de mim, que me sinto como se tivesse vivido 10 anos em 1. Estudei e passei em 2 processos seletivos para o mestrado e me tornei mestranda em sociologia, escrevi e lancei um livro, criei uma plataforma de autoconhecimento colaborativo, atendi mais de 20 mulheres, dei palestras e aulas e escrevi muito! Conheci pessoas que eu jamais imaginei encontrar pessoalmente e me distanciei de pessoas que amo. Me tornei embaixadora do Plano de Menina e implementamos o projeto aqui, organizei um evento para mais de 400 pessoas com a ajuda 100% de voluntárias, que correu de forma linda e sem qualquer imprevisto. Abri meu IG (ainda estou aprendendo a lidar com isso) e até voltei pro Twitter. Estou pesquisando para o segundo livro, montando 2 novos projetos, tão inovadores quanto complexos, e começando a escrever minha dissertação. No meio disso tudo sigo tentando criar um filho, ter um relacionamento saudável e não esquecer totalmente de cuidar de mim mesma.


E falhado miseravelmente!

Eis que, por trás do que pode parecer ter sido um ano incrivelmente produtivo, eu tive uma das minhas maiores crises de autoestima, medo, ansiedade, desespero e tristeza. Vi o país se afundar ainda mais no obscurantismo, conservadorismo crescer igual mato, direitos, conquistados com tanta luta, escorrerem pelos dedos e a consolidação da ode à imbecilidade tomar posto. Perdi o respeito por muita gente que eu admirava, tomei choque de realidade tantas vezes que nem sei contar... me vi, talvez pela primeira vez na vida, realmente desesperançosa!


Me dei conta (ou ao menos assumi) de que o modelo de trabalho que eu acredito não tem espaço em um mercado tomado por falácias meritocráticas, relações promíscuas com sistemas opressivos e estelionato emocional, ao mesmo tempo em que lidava todos os dias com uma voz estridente, porém convincente, me dizendo que eu sou incapaz, medíocre, petulante e arrogante.


Pela primeira vez nos últimos 5 anos, me arrependi das minhas decisões, me senti burra e tive certeza de que eu nunca mais voltaria a ter sucesso. Conversando com uma amiga que me conheceu dos “bons tempos”, enquanto eu explicava tudo isso que eu estava sentido, desabei: “eu era tão foda no que eu fazia! Por que eu fui inventar de fazer outra coisa?! E ainda por cima, querer ser a diferentona que não joga as regras do jogo?! Por que eu tenho que ser desse jeito?”


Aí percebi que, ao verbalizar esses sentimentos (que até então vinham confusos e desordenados na minha cabeça) duas coisas importantes ficaram mais claras: 1) eu estou aprendendo, de verdade, a pagar o preço de ser quem eu sou e quero ser e 2) eu estou experienciando, pela primeira vez na minha vida adulta, uma frustração profissional real e para a qual eu não tenho respostas certas.


Neste ano, eu tomei muitas decisões importantes, como me abrir para voltar ao mercado jurídico para tornar meus outros projetos viáveis e fazer parte de projetos de transformação coletiva mais organizados, mas a mais importante delas foi a de voltar para a terapia para entender o que significa ser esta nova Tayná que não está mais tão preocupada em agradar aos outros, mas ainda não sabe lidar com as consequências disso.


O que significa e como lidar com o fato de que talvez eu realmente seja mediana nessa nova função, mas ela me faça mais feliz? Quando fiz essa reflexão no livro sobre a maternidade, foi muito mais fácil aceitar ser mediana neste papel porque eu sou excelente em outras mil coisas. Essas mil coisas, na verdade, são uma só, a profissional, e as perguntas que se põem agora são: por que é que eu construí toda a minha personalidade, meu senso de valor, minha autoestima e amor próprio na minha persona profissional? Por que eu faço 2189 mil coisas para preencher meu tempo e meu cérebro e não ter que lidar com quem eu sou fora da vida profissional?


Onde eu estou guardando essas respostas, ainda é misterioso para mim, mas ao voltar para as minhas cartas do ano passado, encontrei um colinho de mim mesma, na Tayná de 12 de julho de 2018:



Então essa carta é para me lembrar que amor próprio não dói no outro e que autoestima não é prepotência e nem arrogância. Amor próprio é saber o nosso VALOR! Saber que somos MERECEDORES de amor, de afetuosidade e de generosidade! Ela é para o meu filho, para que ele saiba que ele é a cara do pai, mas que essa doçura e esse abraço que acalma quando um nenem se machuca também é um pouco da mamãe. E que ele se lembre sempre que este é o valor dele! Não o quanto as pessoas o elogiam, ou se elas são ou não gratas pelas coisas que ele faz. Mas a sensação de prazer que ele sente neste exato momento. O momento do sorriso que nos é concedido quando estamos dando o nosso melhor. O que temos de mais puro e verdadeiro. Essa é a verdadeira generosidade conosco e com o outro: saber o nosso valor e não permitir que ninguém - nem nós mesmos - nos dê menos do que merecemos! Essa carta é para você, mulher que por alguma razão está me lendo agora. Para que saiba que o seu valor não é pautado pelo sentimento ou expectativa do outro! Deixe o que é do outro para ele e olhe pra você com a generosidade com que costuma olhar para os outros. E se por acaso não encontrar muita generosidade neste olhar, perdoe-se por isso! Hoje vejo claramente que o meu valor é pautado pela serenidade e pela leveza de estar em perfeita sintonia com a minha essência. São momentos raros, mas valem cada segundinho! Quando sabemos o nosso valor nos amamos não porque somos melhores e sim porque estamos sendo verdadeiros ao que viemos fazer nesse mundo: sermos a nossa melhor versão! São 34 anos procurando o equilíbrio entre ser generosa e ser carente. 34 anos tentando não surtar se a pessoa não responde meu bilhete/carta/e-mail/whatsapp e morrendo de medo de perder pessoas porque fui eu mesma. Se eu consegui? Às vezes sim, às vezes não, quase sempre um pouco mais tarde do que eu gostaria e cada vez mais antes do que na vez anterior! Gratidão ao Universo por esta oportunidade de aprendizado nesta vida, ao lado de pessoas tão maravilhosas para esta jornada de busca e trabalho! A Tayná que chorava por golfinhos e baleias estaria orgulhosa da mulher que ela se tornou!



Se a Tayná aos 34 estava permitindo amar-se, a de 35 está buscando fazê-lo de forma incondicional e, independentemente de seu valor profissional. Esse é um desafio novo e, talvez o mais árduo até agora, pois foi nessa caixinha que eu depositei todo o “sentido de mim”. Foi aqui que curei minhas feridas e me fortaleci, mas foi aqui também que eu me aprisionei.


É isso, “tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano que passado eu morri, mas esse ano não morro!”






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